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A LINHA TÊNUE ENTRE O DIREITO À DESCONEXÃO E O ADOECIMENTO MENTAL DO TRABALHADOR:
UMA ANÁLISE DA SÍNDROME DE BURNOUT
Tais características, presentes no mundo contemporâneo, fazem
com que os trabalhadores ultrapassem um limite saudável de dedicação ao
trabalho, os tornando sobrecarregados e, consequentemente, estressados.
A sobrecarga, muitas vezes, é valorizada, com o pretexto de exaltação
do trabalhador, de forma que aquele que trabalha demais se torna bem-
visto aos olhos de seu chefe, colegas de trabalho e ciclo social. Porém, essa
cultura de valorização do excesso de trabalho afeta a saúde mental e física
do trabalhador, podendo resultar na síndrome de burnout, reconhecida pela
Organização Mundial de Saúde.
A síndrome de burnout, ou, ao traduzir, síndrome do esgotamento,
é caracterizada justamente por sua origem: ela se desenvolve por causa
da relação da pessoa com o trabalho. As causas podem ser o acúmulo de
funções, jornadas extenuantes, situações desgastantes, como o assédio
moral, o próprio excesso de trabalho ou até todas juntas. O burnout torna
a pessoa incapaz de trabalhar por tempo indeterminado. A retomada ao
trabalho se dá conforme sua recuperação e autorização de um profissional
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de saúde mental.
A síndrome não é adquirida de uma hora para outra, ela passa por
fases até chegar ao colapso, que ocorre em seu último estágio, quando há
esgotamento mental e físico que, segundo relatos, ocorre em forma de um
“apagão” e é quando não há mais alternativas, sendo preciso o afastamento
de seu respectivo trabalho e a busca urgente de um tratamento adequado.
Até chegar a atingir seu ápice, o trabalhador sofre em silêncio e, por
muitas vezes, é julgado pela forma que desempenha seu serviço até lá, pois é
mais fácil sentir empatia em um ambiente de trabalho se um funcionário se
apresentar com um dano físico, como um braço quebrado, por exemplo, do
que estar com uma doença que é sofrida de forma interna, uma dor invisível
que, para muitos, se não pode ser vista não é de fato legítima. Em muitos
casos, essa dor só se torna visível quando o trabalhador chega ao colapso,
quando, após uma intervenção clínica, se sentirá compreendido (CARUSI,
2018, online).
É triste pensar que muitas pessoas, neste exato momento, estão
passando pelas fases silenciosas e destrutivas do burnout, sem saber ao menos
o que são todas aquelas mudanças em seu corpo que atrelam até possíveis