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A LINHA TÊNUE ENTRE O DIREITO À DESCONEXÃO E O ADOECIMENTO MENTAL DO TRABALHADOR:
          UMA ANÁLISE DA SÍNDROME DE BURNOUT

          de férias, os repousos semanais remunerados e as licenças são primordiais
          para a saúde e desempenho do trabalhador. Há pessoas que não conseguem
          se desconectar do trabalho inclusive no período de férias, que é um período
          tão aguardado pelos trabalhadores.

                           Há também quem não se desconecta mesmo durante as férias, por
                           medo de não ser necessário no trabalho. Se o profissional não relaxa,
                           fica nesse modo permanente de atenção, mais cedo ou mais tarde
                           isso trará um impacto na sua saúde mental e física, ela acrescenta
                           (BOCCIA, 2021, online).

                  Tal direito tem por objetivo a efetiva limitação da jornada de
          trabalho, respeito às férias e garantias constitucionais a fim de evitar
          que o empregado esteja à disposição do empregador permanentemente,
          pois, mesmo que por algumas horas do dia esteja submetido à empresa,
          o trabalhador precisa afastar-se do ambiente laboral para recuperar sua
          energia plenamente. Portanto, a subordinação do empregado tem limites,
          pois os danos provocados por situações de trabalho desgastantes podem
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                  Ousar se desconectar em uma época marcada pelo desemprego e
          ampla concorrência não é uma tarefa fácil, e, para muitos trabalhadores, se
          desconectar pode implicar seu desligamento da empresa. Exemplos de medo
          de se desconectar são muito comuns, como o de Kelly Silva, jornalista,
          que, em entrevista à coluna UOL-Viva Bem, conta sobre o dia que ficou
          impossibilitada fisicamente de trabalhar e não teve sua licença concedida,
          trabalhando mesmo assim por medo de sua demissão.
                           Ele chegou a falar que eu era o lado negro do escritório. Em uma
                           situação em que eu quebrei os dedos do pé e liguei para avisar meu
                           afastamento, ele me disse que eram só dedos do pé e eu usava as
                           mãos para trabalhar. Se eu não fosse, ele colocaria outra pessoa em
                           meu lugar, e como eu precisava do dinheiro daquele emprego, fui
                           trabalhar (SILVA, 2020, online).
                  O direito à desconexão é uma necessidade moderna e reconhecer
          essa  importância,  além  de  ser  uma  necessária  discussão  do  presente,
          amadureceria ideias imprescindíveis para o futuro do trabalho. O seu
          desrespeito pode gerar a exaustão profissional plena, ocasionando a chamada
          síndrome de burnout, a qual será abordada a seguir.
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