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A LINHA TÊNUE ENTRE O DIREITO À DESCONEXÃO E O ADOECIMENTO MENTAL DO TRABALHADOR:
          UMA ANÁLISE DA SÍNDROME DE BURNOUT

                  Porém, ao trabalhar por meios eletrônicos, mesmo com a distância,
          o ambiente de trabalho passa a se confundir com o ambiente residencial,
          ocorrendo uma confusão das esferas de vida do trabalhador. Muitas vezes,
          o empregado chega em casa e continua laborando por meio desses sistemas
          ou inicia sua jornada mais cedo. Esse tipo de mudança se tornou comum
          na pandemia do COVID-19, na qual o  home office se tornou um meio
          vantajoso de continuar a trabalhar em meio a propagação do vírus.
                  Visto com vantagem, devido a sua facilidade, muitos
          profissionais se renderam ao home office. Uma alternativa que envolvia
          trabalhar no conforto de casa, com redução de custos, privacidade e
          maior liberdade, seria bem-vindo. O problema é que, se não houver um
          planejamento, disciplina e respeito do empregador aos horários e carga
          de trabalho do funcionário, haverá a indefinição de horários de trabalho
          e vida pessoal, tornando ambos um só. Em matéria para a coluna UOL
          economia,  Fernanda  Monteiro,  produtora  de  conteúdos,  relata  sua
          relação desgastante com o home office, em que se percebe, claramente,
     38   essa indefinição de horários:

                           Não aguento mais o home office. Começo a trabalhar antes das 10h e
                           vou além das 19h, que seria o final do meu expediente. No final do
                           ano passado, as notas [fiscais] se multiplicaram, e passei a madrugada
                           trabalhando. Minha chefe já disse que não quer que eu extrapole
                           meus limites, mas se eu não o fizer, não entrego tudo o que preciso
                           [...] fiquei com muita indisposição nesse período e precisei estipular
                           metas: acordar mais cedo, fazer um exercício, ler algo, porque a gente
                           já acorda trabalhando. (MONTEIRO, 2021, online)

                  Cada vez mais é comum ouvir relatos de trabalhadores que
          se sentiram afetados com o home office. Mesmo assim, muitas empresas,
          almejando as vantagens financeiras que a forma de trabalho oferece,
          continuam  no  mesmo  regime  pós-quarentena,  sem se  preocupar  com
          a qualidade de vida por trás da produtividade de seu funcionário. A
          produtividade do trabalho, muitas vezes, esconde as horas mal dormidas,
          sendo que, para alcançar as metas de trabalho, a jornada começa mais cedo
          e se estende até a conclusão de sua “meta”.

                  A CLT diz que o trabalho realizado a distância não se distinguirá
          daquele realizado no estabelecimento do empregador. O que difere do
          trabalho realizado no estabelecimento do empregador é a não obrigatoriedade
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