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Ana Paula de Azevedo Barbosa / Rayane Araújo Castelo Branco Rayol
2 DO TRABALHO AO BURNOUT
Uma boa relação com o trabalho é essencial se uma pessoa objetiva
ter uma vida saudável. Aliás, o trabalho ocupa boa parte do tempo de vida,
o que pode ser um fator benéfico, ou não, a depender de suas circunstâncias.
Mediante más circunstâncias de trabalho, a pessoa poderá vir a desenvolver a
síndrome de burnout que traz consequências indesejáveis para o profissional,
para o empregador e, consequentemente, para a sociedade.
Não é uma tarefa fácil arcar com as consequências da síndrome, pois o
tratamento apropriado leva tempo e há gastos financeiros a longo prazo, por isso
rever as condições de trabalho nas quais é submetido o trabalhador é essencial
para que ele não passe despercebido pelos estágios da doença e chegue a seu
ápice. A doença tem tratamento, mas, a depender de como o trabalhador passa
por ela, o absenteísmo, grande vilão da sociedade, pode vir a surgir.
2.1 Burnout: um risco ao trabalhador
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O trabalho faz parte da construção de identidade, gera confiança e
autonomia, ou seja, tem um papel fundamental na vida das pessoas. Por ter
esse papel, acaba se tornando o foco principal de muitas pessoas, o que muda
totalmente a relação com o trabalho e as positivas contribuições pessoais que
ele é capaz de oferecer. Como afirma Dejours (1992, p. 63-64), “a saúde e o
trabalho estão intimamente ligados e, se o homem for fortemente afrontado
em suas tarefas profissionais, põe em perigo sua vida mental”.
É fato que a relação com o trabalho se transformou ao longo dos
anos. Há 135 anos, o Brasil lidava com a escravidão. Um ano depois, após a
sua abolição, lidava com a falta de leis que protegessem o trabalhador. Hoje,
lida, mesmo com a proteção legislativa ao trabalhador, com um mundo
super conectado, que proporcionou facilidades no dia a dia, mas trouxe um
lado negativo, com intensas pressões por resultados e obtenção de cada vez
mais produtividade.
A ansiedade responde então ao ritmo de trabalho, de produção,
a velocidade e, através desses aspectos, ao salário, aos prêmios, às
bonificações. A situação de trabalho por produção é completamente
impregnada pelo risco de não acompanhar o ritmo imposto e de
“perder o trem” (DEJOURS, 1992, p.73).
a
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 12 Região | v.27 n. 36 2024