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Ana Paula de Azevedo Barbosa / Rayane Araújo Castelo Branco Rayol
1.1 Uma perspectiva histórica da classe trabalhadora em meio aos
excessos do poder diretivo patronal
Não é de hoje que os empregadores se sentem superiores a seus
empregados e permitem que tal sentimento se aplique à relação de emprego,
inclusive, pode-se dizer que os direitos trabalhistas hoje existentes são
pautados na necessidade de controlar e evitar abusos do poder patronal.
Tais direitos objetivam garantir uma vida digna e equilibrar essa relação,
mas o sentimento de “posse” e superioridade, carregado muitas vezes pelo
empregador, dificulta a relação, podendo até pôr em risco a saúde de seu
empregado. Diante disso, percebe-se que essa relação, pautada em uma
exacerbada subordinação, foi construída ao longo de vários anos, permitindo
que esse pensamento se perdure até os dias de hoje.
É fato que a forma de pensar sobre as relações de trabalho mudou
de séculos para cá, mas resquícios de pensamentos, até escravocratas,
pautam, muitas vezes, tais relações até os dias de hoje. A escravidão foi uma
instituição presente na história do Brasil ao longo de mais de 300 anos, 33
por isso desconstruir esse pensamento de posse, devido ao enorme lapso
temporal em que foram submetidas milhões de pessoas, é um processo
longo que visa à destruição desses atos de tal passado histórico para que os
mesmos erros não sejam cometidos.
Cometer os mesmos erros é retornar a um passado marcado
por muita exploração, não muito distante, pois somente há 134 anos
a escravidão chegava ao fim por meio de uma lei votada no Senado e
assinada pela Princesa Isabel (DELGADO, 2019, p. 125). Logo após a
data, o trabalhador ainda era enxergado pelo empregador como sua posse,
pois era submetido a inúmeras horas de trabalho diárias em troca de uma
remuneração irrisória.
Em decorrência de tal descaso, um pouco mais à frente, em 1917,
segundo Ricardo Westin, repórter da Agência Senado, na matéria ‘’Há
100 anos, greve geral parou São Paulo’’ houve a primeira greve geral dos
trabalhadores, iniciada por empregados da fábrica do setor têxtil que não
aguentavam mais o pouco caso em relação à enorme carga de trabalho e à
baixa remuneração. Tais greves se espalharam por muitos estabelecimentos e
contavam com quase 50 mil trabalhadores, deixando, assim, empregadores
a
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 12 Região | v.27 n. 36 2024