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CONCEITO DE ASSÉDIO MORAL ORGANIZACIONAL: OS DIREITOS FUNDAMENTAIS AO TRABALHO,
          À SAÚDE E AO MEIO AMBIENTE SAUDÁVEL NA TUTELA DA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

          deôntica de produção de regras formais e informais de trabalho. São essas as
          “condições que garantam as liberdades políticas e econômicas fundamentais
          da pessoa humana” (art. 6º do PIDESC).

                  Isso que aparentemente parece pouco, implica uma verdadeira
          Revolução Copernicana do Direito do  Trabalho, porque obriga
          juridicamente a abrir-se a casamata da empresa, dos métodos de gestão e
          organização do trabalho como lugar da soberania absoluta do empregador.
          Se a atividade e a organização de trabalho realizam, a par do interesse
          do empregador, também necessidades fundamentais de desenvolvimento
          da personalidade, de identidade, saúde, formação de vínculos sociais
          e aprendizagem ético-política,  protegidas pelo  direito fundamental
          ao trabalho, em conexão com os direitos fundamentais à saúde, ao
          ambiente saudável e à redução dos riscos inerentes ao trabalho, o espaço
          da organização do trabalho, núcleo do ambiente de trabalho, deve ser
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          compreendido como espaço de cidadania . Aquele que trabalha não
          só está se desincumbindo de uma obrigação de prestação que interessa
    216   ao tomador. Nesse mesmo ato vivencial de trabalho, ele está também
          exercendo um direito fundamental. O direito ao conteúdo do trabalho,
          juridicamente,  não elimina, mas contra-arresta, relativiza, o direito do
          empregador sobre a atividade e a organização do trabalho e impõe limites
          e conteúdos necessários. A coordenação do trabalho, como prerrogativa
          do empregador, não justifica um direito de degradação do conteúdo de
          algo que é “bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
          vida”. Ao revés, essa prerrogativa que lhe é reconhecida sob os conceitos de
          poder de organização, subordinação ou dependência, deve trazer consigo
          a responsabilidade para com a pessoa humana dos que ali trabalham e que
          lhe antepõe limites e obrigações.

                  Isso implica rever-se a própria compreensão global do direito do
          trabalho para que alcance, além da regulação das condições de compra e
          venda da força de trabalho e as condições ambientais naturais, as condições
          existenciais no trabalho. O trabalho concreto – atividade e organização – até
          então esquecido do direito que lhe empresta o nome, passa a compor o centro



          70  No mesmo sentido, Nicolas Chaignot, In: CHAIGNOT DELAGE, Nicolas; DEJOURS,
          Christophe (dirs.). Clinique du travail et évolutions du droit. Paris: PUF, 2017, p. 330-331.
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