Page 201 - Revista TRT-SC 036
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Leonardo Vieira Wandelli
da polis e da cultura , em termos de “honrar a vida” pelo trabalho. É
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um aspecto essencial ao amor-próprio, que é diretamente afetado pelo
sofrimento ético.
A sublimação fornece benefícios essenciais para a saúde mental,
transformando o sofrimento, e propiciando o enriquecimento dos registros
de sensibilidade, fortalecimento da identidade e do amor-próprio. Além
disso, a renúncia pulsional em prol da participação na obra comum é
fundamental para a conjuração da violência e a formação do vínculo
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social . Para tanto, são indispensáveis condições necessárias, ainda que
não suficientes, relativas à atividade individual e à organização do trabalho.
Adam Smith, citado por Marx, já advertia que: “Um homem que despende
toda a sua vida na execução de algumas operações simples (...) não tem
oportunidade de exercitar sua inteligência. Geralmente, ele se torna tão
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estúpido e ignorante quanto se pode tornar uma criatura humana.” .
As condições da atividade envolvem primeiro a possibilidade de uma
contribuição efetiva pelo trabalho, um trabalho com sentido do ponto de
vista do emprego das capacidades humanas e do seu sentido ético e que 201
tenha utilidade técnica, social ou econômica. Isso exige ainda um trabalho
com certa autonomia, variabilidade e adequada carga de exigência e que
seja provido das condições materiais de sua realização. Poder fazer um bom
trabalho e com isso desenvolver as próprias capacidades e contribuir para
uma obra em comum é uma necessidade da grande maioria das pessoas. Fala-
se da Justiça Distributiva, da Justiça como Reconhecimento, mas é preciso
também falar, antes, de uma Justiça Contributiva, como possibilidade
efetiva de aportar a sua contribuição para o bem comum pelo seu trabalho .
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39 Dejours recorre aqui à noção de kulturarbeit de Freud, sustentando que essa forma de
sublimação, mesmo sendo excepcional, não está presente apenas no trabalho de cientistas
ou artistas, mas é, sob certas condições, possível mesmo nas formas ordinárias de trabalho,
sendo, porém, obstruída quando o viver juntos e o sentido ético do trabalho são degradados.
DEJOURS, Travail vivant 2: travail et emancipation, op. cit., p.154-159. DEJOURS,
Christophe. Ce qu’il y a de meilleur en nous, op. cit., p. 114-123 e 143-169.
40 DEJOURS, Ce qu’il y a de meilleur en nous, op. cit., p.122-123.
41 Apud MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Livro I, vol. 1, 20. ed., Rio de
Janeiro, Civilização Brasileira, 2002, p. 417.
42 DEJOURS, C.; DERANTY, J-P.; RENAULT, E., SMITH, N. H. The Return of work in
critical theory: self, society, politics. New York: Columbia University Press, 2018.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 12 Região | v.27 n. 36 2024
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