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A LINHA TÊNUE ENTRE O DIREITO À DESCONEXÃO E O ADOECIMENTO MENTAL DO TRABALHADOR:
UMA ANÁLISE DA SÍNDROME DE BURNOUT
que tal ação seja concretizada seria o excesso de poder diretivo patronal e o
fácil acesso de conexão por meio das vias digitais.
Diante disso, vale ressaltar o impacto do desrespeito a esse direito,
que pode resultar no adoecimento mental do trabalhador, como a síndrome
de burnout, o absenteísmo e seu custo social, além da possibilidade de
eventuais demandas judiciais aos empregadores que incorrem em tais
práticas em detrimento dos empregados.
Além de todos esses impactos já vistos no presente artigo, vale
ressaltar o impacto social dessa conduta, pois continuar a seguir o mesmo
padrão de trabalho, baseado no autoritarismo e submissão, adapta a
sociedade a aceitar esse comportamento e não lutar pelos seus direitos,
tornando-a inerte.
A inércia da sociedade é ruim, tendo em vista que pessoas capazes
de lutar pelos seus direitos, para sair dessa situação, ficam “presas” a um
54 sistema de trabalho falido em que os profissionais adoecem e não conseguem
voltar a trabalhar, privando-os de alcançar oportunidades profissionais e as
consequências positivas advindas. Veja-se, a título de exemplo, o relato de
Izabella Camargo ao Meio e Mensagem, veículo brasileiro online, sobre o
mercado de comunicação:
Marcela hoje é sócia e fundadora da sua própria produtora, a Pepita,
mas antes de empreender, ela trabalhava no mundo corporativo,
mais especificamente com comércio exterior — e também sofreu
um burnout. Os sintomas começaram por uma exaustão que se
prolongava até nos finais de semana, os quais ela permanecia deitada
para tentar descansar. Logo, a aversão ao trabalho começou a bater
na porta. “Eu acordava de manhã pedindo para que não tivesse
que ir trabalhar. Chegava no escritório e me entupia de café o dia
inteiro, para me manter de pé, e almoçava em quinze minutos. Tudo
porque eu precisava entregar, entregar e entregar. E o meu corpo
foi parando”, conta [...] após a demissão, o estudo da psicanálise e
alguns meses de descanso, Marcela e Julio decidiram empreender e
criar a Pepita, uma produtora que explora maneiras de expressar o
que há de mais humano em nós. Eles descrevem sua atuação assim:
“humanizamos empresas, traduzimos essências e investimos em
projetos multiplataforma que geram impacto humano” (apud Lidia
Capitani, 2022, online).