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S. Tavares-Pereira
enviam-se ou recebem-se imagens/som. Às vezes, apenas se transita pelos
espaços (navegar!) fazendo indicações de desejos por cliques ou outros
signos. Nesses espaços, como na plataforma dos processos eletrônicos, após
o ingresso, pratica-se boa parte dos atos processuais. Foi um alívio poder
gozar desses espaços em que o corpo é desnecessário para o ato, apenas
um peso, e para onde é possível apenas enviar imagem/som e signos para
interação. São espaços em que se está sem estar. O metaverso é a promessa de
extremar tais experiências.
A mesma dicotomia ampliativa (Paradoxal, isso? Uma divisão
que amplia?), que os juristas fizeram com o sistema processual, os demais
atores sociais fizeram com o mundo em geral. O imaginário tem ganhado,
cada vez mais, a possibilidade de substituir atos reais. Quando o corpo
físico é necessário, ainda se fala em atos presenciais. E quando o corpo
é desnecessário, fala-se em atos telepresenciais: um quase-arremedo de
presença. Ainda se dá muito valor ao hardware, ao físico, embora, como
se sabe bem, o que de fato é real e age é o virtual, o software, o espírito, o
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psíquico. Nas máquinas, vive-se trocando o hardware e lá está ele, o editor,
aguardando o usuário para receber e registrar as ideias. Sem ele, a máquina
é inútil. Então, o corpo é um estorvo na maioria dos casos, embora, às
vezes, só o corpo seja capaz de dar a garantia, em certos atos, de que aquele
psíquico é quem diz que é. A velha identidade indivisível (indivíduo) de
corpo e mente, corpo e alma, corpo e psíquico – seja qual for a distinção
com que se trabalhe – ainda é útil para algumas coisas.
3.6 Portas de entrada: incômodas, caras, perigosas, quase insuportáveis
O veículo para entrar no novo mundo não é uma caravela, embora
pareça. Se as caravelas do século XVI, com seus defeitos e deficiências,
permitiram desbravar novos mundos, estabelecer continentes e fundar
novas civilizações, os aparatos de desbravamento do metaverso podem ter
uma trajetória semelhante.
Os óculos de realidade virtual e demais instrumentos de imersão
no metaverso, como os sensores vestíveis, geram grandes preocupações.
Conforme a origem da crítica, são classificados como incômodos,
dispendiosos, perigosos à saúde, insuportáveis.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 12 Região | v.27 n. 36 2024
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