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TRABALHO EM UNIVERSOS HÍBRIDOS, ANALÓGICO-VIRTUAIS. TRANSFORMAÇÕES DAS
RELAÇÕES DE TRABALHO E DO DIREITO
O metaverso (ambiente híbrido) é uma criação tecnológica.
Inúmeras ciências e técnicas são utilizadas para a sua construção. Vale
reforçar: a existência de uma camada virtual, tecnológica, simbioticamente
associada à camada física do mundo, é a marca do metaverso. Ele é o
universo ampliado, formado das duas camadas, em que o trânsito entre elas
está facilitado. A vida é tecida com atos das duas bandas.
Para a construção de um conceito jurídico-laboral para metaverso
e metatrabalho, tem-se de vasculhar informações, ideias e entendimentos
num rico âmbito multidisciplinar. Muitos saberes, de diferentes naturezas e
gerados com distintos suportes epistemológicos, precisam ser consultados,
entendidos e aproveitados. A reconstrução transdisciplinar de categorias é
uma exigência.
O grupo que, nas décadas de 1940/1950, trabalhou nos
esforços que resultaram na Cibernética – a Ciência da Automação – era
eclético. Das históricas Macy Conferences participaram, além de Norbert
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Wiener , matemático e lógico, sociólogos, antropólogos, filósofos,
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biólogos, linguistas, fisiologistas, semiólogos, engenheiros da computação,
psicólogos, cientistas da cognição, neuroanatomistas, neurologistas,
engenheiros eletrônicos e psicanalistas.
Está-se quase necessitado de um esforço assim. O Direito tem de
aprender muito, de diferentes áreas, para habilitar-se a contribuir para a
construção/regulação do metaverso . Como dito, após fazer a descrição e
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a caracterização da categoria, poder-se-á avançar para considerar o mundo
do trabalho: o conjunto das relações de alcance laboral, dos homens com
34 FREDRIKZON, Johan. Cybernetics: The Macy Conferences. Disponível em: <https://www.
researchgate.net/publication/350508469_Cybernetics_The_Macy_Conferences.>. Acesso em:
24 jan. 2023.
35 WIENER é considerado o pai da Cibernética.
36 A autossuficiência das ciências é bem condenada por Latour: “Os economistas da inovação
ignoram os sociólogos da tecnologia; os cientistas cognitivos nunca fazem estudos sociais da
ciência; a etnociência está muito longe da pedagogia; os historiadores da ciência prestam pouca
atenção aos estudos literários ou à retórica; os sociólogos da ciência muitas vezes não veem
relação alguma entre seu trabalho acadêmico e os experimentos in vivo realizados por cientistas
ou cidadãos interessados; os jornalistas raramente citam trabalhos acadêmicos sobre estudos
sociais da ciência; e assim por diante”. LATOUR, Bruno. Ciência em ação. Como seguir
cientistas e engenheiros sociedade afora. São Paulo: UNESP, 2000, p. 34-35.