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TRABALHO EM UNIVERSOS HÍBRIDOS, ANALÓGICO-VIRTUAIS. TRANSFORMAÇÕES DAS
          RELAÇÕES DE TRABALHO E DO DIREITO

          Ciência em ação não pode ser esquecida: “Entraremos em fatos e máquinas
          enquanto estão em construção; não levaremos conosco  preconceitos
          relativos ao que constitui o saber [...]” . [grifo nosso] Deve-se ajustar
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          apenas o final: “ao que constitui  o Direito posto e vigente”. Na área
          trabalhista, por exemplo, há quem acredite que o legislador brasileiro
          de 1943, com a Consolidação das Leis do Trabalho, previu tudo que
          ocorreria no futuro e já estabeleceu o paradigma normativo definitivo para
          a regência jurídica das relações de emprego.
                  Finalmente, consigne-se que o desconhecimento das bases científicas
          das tecnologias da informação e da comunicação – que estavam surgindo no
          horizonte em 1943 –, principalmente pelos juristas, é a pá de cal que fecha
          a caixa dos desafios. A transdisciplinaridade, sem dúvida, marca as novas ou
          transformadas categorias teóricas com as quais se tem de lidar.


          3.5 Telespaços. Compartimentalização virtual do mundo
                  Nas duas últimas décadas, o mundo acostumou-se com as
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          compartimentalizações virtuais da vida. Ondas tecnológicas incumbiram-
          se de fundá-las. Atualmente, convive-se com instrumentais de inúmeras
          dessas fases (realidades fenomênicas históricas, algumas ultrapassadas, mas
          ainda úteis) e com eles se lida diariamente: e-mails, chats, dvds, cds. Mas
          também se recebem aulas pela internet e fazem-se audiências de casa ou do
          escritório. Telepresença é a moda: há lá, no mundo físico de outro humano,
          uma picture, em alguma tela, mostrando o falante a quem estiver assistindo.

                  O mundo físico, no qual as coisas sempre foram separadas por
          paredes sólidas, ganhou expressão ampliada. As famosas bolhas atuais, das
          fakenews, dos ideários compartilhados, dos “nós contra eles”, dos que se
          sentem bem no igualitarismo do pensar e que abominam a diversidade, são já
          compartimentalizações tecnologicamente construídas em que se distribuem
          os humanos. O metaverso transporta as pessoas para as fímbrias do mundo
          novo, sólido e líquido, real numa das bandas e quase-real na outra.

                  Todos estão habituados com os telespaços, os espaços do mundo
          virtual a que se podem transportar: – entra na sala X! Até agora, em geral,



          40  LATOUR, Bruno. Ciência em ação..., p. 31.
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