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S. Tavares-Pereira
Com as propostas tecnológicas de fundação de universos
diferenciados, híbridos, que simbioticamente amalgamam o real e o virtual,
põe-se o desafio de saber se as relações que surgem nesses espaços: (i)
enquadram-se no gênero relação de emprego e, também, (ii) se for o caso,
se são de uma das espécies já existentes ou se são novas (emergentes). A
análise conduz, muitas vezes, a um terreno nebuloso. Quando a realidade se
atualiza (modifica-se), as regras podem apresentar brechas – incompletudes,
insuficiências, imprevisões – e precisam ser corrigidas, legislativa e
jurisprudencialmente.
O método adotado neste estudo é o indutivo, embora seja necessário
partir de particulares empíricos mutantes, ainda pouco definidos, muitas
vezes apenas descritos e propostos, para tentar extrair deles um esquema
generalizável de atributos suficiente para um confronto com os contornos já
estabelecidos para identificação das relações de emprego em geral.
Para as reflexões, utiliza-se a proposta do produto metaverso como
paradigma porque foi o modelo de universo híbrido mais amplo, mais bem
descrito e mais arrojado, com fortes pretensões mercadológicas, de uma das 253
ditas bigtechs (Meta Platforms Inc.). Esse modelo recebeu recursos expressivos
para desenvolvimento/divulgação e teve um bom tempo de maturação/
experiências. Diz-se um modelo arrojado porque inclui a previsão de uso
de realidade virtual, realidade aumentada, holografia, blockchain, tokens
não fungíveis (NFTs), moedas virtuais e esboça uma firme pretensão de
reprodução virtual, o mais fiel possível, dos atos da vida analógica.
O produto comercial da Meta – o metaverso – teve um auge
no noticiário, na literatura e nos esforços de geração de soluções com
sua utilização. Depois houve um refluxo que pode ser atribuído a vários
fatores, valendo destacar: (i) grande parte do design do modelo proposto
depende de avanços tecnológicos previstos e ainda não concretizados; (ii)
incapacidade de gerar aplicações práticas agregadoras de valor aos negócios
e (iii) o surgimento da tecnologia vitoriosa de processamento da linguagem
natural (NLP) – Generative Pré-training Transformers – que absorveu todas
as atenções e tem viabilizado perspectivas de aplicação imediata e disruptiva
em todas as áreas de atividade.
Poderiam ser indicadas, ainda, para as dificuldades de difusão do
produto metaverso, questões ligadas à competição no mercado, decorrentes
a
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 12 Região | v.27 n. 36 2024