Page 253 - Revista TRT-SC 036
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S. Tavares-Pereira

                       Com as propostas tecnológicas de fundação de universos
              diferenciados, híbridos, que simbioticamente amalgamam o real e o virtual,
              põe-se o desafio de saber se as relações que surgem nesses espaços: (i)
              enquadram-se no gênero relação de emprego e, também, (ii) se for o caso,
              se são de uma das espécies já existentes ou se são novas (emergentes). A
              análise conduz, muitas vezes, a um terreno nebuloso. Quando a realidade se
              atualiza (modifica-se), as regras podem apresentar brechas – incompletudes,
              insuficiências, imprevisões – e precisam ser corrigidas, legislativa e
              jurisprudencialmente.

                       O método adotado neste estudo é o indutivo, embora seja necessário
              partir de particulares empíricos mutantes, ainda pouco definidos, muitas
              vezes apenas descritos e propostos, para tentar extrair deles um esquema
              generalizável de atributos suficiente para um confronto com os contornos já
              estabelecidos para identificação das relações de emprego em geral.

                       Para as reflexões, utiliza-se a proposta do produto metaverso como
              paradigma porque foi o modelo de universo híbrido mais amplo, mais bem
              descrito e mais arrojado, com fortes pretensões mercadológicas, de uma das   253
              ditas bigtechs (Meta Platforms Inc.). Esse modelo recebeu recursos expressivos
              para desenvolvimento/divulgação e teve um bom tempo de maturação/
              experiências. Diz-se um modelo arrojado porque inclui a previsão de uso
              de realidade virtual, realidade aumentada, holografia,  blockchain,  tokens
              não fungíveis (NFTs), moedas virtuais e esboça uma firme pretensão de
              reprodução virtual, o mais fiel possível, dos atos da vida analógica.
                       O produto comercial da Meta – o metaverso – teve um auge
              no noticiário, na literatura e nos esforços de geração de soluções com
              sua utilização. Depois houve um refluxo que pode ser atribuído a vários
              fatores, valendo destacar: (i) grande parte do  design do modelo proposto
              depende de avanços tecnológicos previstos e ainda não concretizados; (ii)
              incapacidade de gerar aplicações práticas agregadoras de valor aos negócios
              e (iii) o surgimento da tecnologia vitoriosa de processamento da linguagem
              natural (NLP) – Generative Pré-training Transformers – que absorveu todas
              as atenções e tem viabilizado perspectivas de aplicação imediata e disruptiva
              em todas as áreas de atividade.
                       Poderiam ser indicadas, ainda, para as dificuldades de difusão do
              produto metaverso, questões ligadas à competição no mercado, decorrentes

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                                           Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 12  Região | v.27 n. 36 2024
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