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SAÚDE MENTAL E TELETRABALHO: ASPECTOS GERAIS E ANÁLISE SOB A PERSPECTIVA DE GÊNERO

          4 RECORTE DE GÊNERO: O IMPACTO DO
          TELETRABALHO NA SAÚDE MENTAL DA
          TELETRABALHADORA

                  A inserção da mulher no mercado de trabalho ocorreu de forma
          gradual,  acompanhando  a evolução  social e dos meios de produção,
          sobretudo com o avanço da industrialização.

                  Em paralelo, o trabalho de cuidados, assim entendido como aquele
          que envolve atividades relacionadas com a satisfação das necessidades físicas,
          psicológicas e emocionais de adultos e crianças, idosos, jovens, debilitados
          e saudáveis, conforme definição da OIT, também continuou a ser exercido,
          em sua grande maioria, pelas mulheres, e de forma não remunerada.

                  A OIT pondera, ainda, que como as mulheres são as realizadoras
          mais frequentes do trabalho de cuidados não remunerado, a sua
          disponibilidade para o empregado remunerado é limitada, assim como a
          qualidade do emprego a que podem ter acesso, o que reforça as diferenças
    118   de gênero existentes no mercado de trabalho remunerado.

                  No mesmo sentido, Kátia Magalhães Arruda e Débora Regina
          Mendes Magalhães enfatizam que os estudos da OIT demonstram que
          mulheres e meninas são responsáveis por realizar ¾ do trabalho de cuidado
          não remunerado e necessário para manter as famílias e a própria sociedade,
          de  modo  que  as  mulheres  gastam,  em  média,  61  horas  por  semana  em
          atividades de cuidado não remuneradas .
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                  É importante destacar que a maioria das mulheres que assumem o
          trabalho de cuidado não remunerado precisam se manter, ao mesmo tempo, em
          suas atividades laborais ordinárias, pois é delas que retiram o seu sustento e o de
          suas famílias. Assim, considerando que gastam, em média, 61 horas por semana
          em atividades de cuidado, conforme demonstra o estudo citado, isso representa
          mais do que 8 horas diárias dedicadas pelas mulheres a esse tipo de atividade.

                  Tais dados conduzem à conclusão de que as mulheres desempenham
          uma “dupla jornada”, que representa a soma das horas destinadas às


          12   ARRUDA, Kátia Magalhães; MAGALHÃES, Débora Regina Mendes. A economia do
          cuidado a partir dos objetivos estratégicos da OIT e o futuro do trabalho decente. Revista LTr,
          v. 87, n. 3, mar. 2023, p. 3.
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