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SOBRE ANTÍDOTOS E VENENOS: AS METAS E O ADOECIMENTO DOS TRABALHADORES,
          OU COMO A COBRANÇA DE METAS TEM AFETADO ATÉ MESMO A SAÚDE DOS JUÍZES E SERVIDORES

          serviços, num processo sem fim rumo à total ou semitotal automatização,
          tem conduzido a um aumento exponencial dos adoecimentos ocupacionais e,
          em especial, daqueles relacionados às funções mentais dos trabalhadores.

                  As metas acríticas adoecem. Simples assim. Por óbvio, não são todos
          os trabalhadores que sentem a pressão pelo atingimento de metas, assim como
          nem todas as pessoas contraem gripes ou viroses. Em saúde pública, há sempre
          as idiossincrasias e as propensões individuais. Contudo, não se pode descartar
          a seriedade do problema. Ao contrário, há estudar o fenômeno em toda a sua
          amplitude, num esforço multiprofissional, para que a solução seja alcançada
          em nível coletivo. Daí que a contribuição da epidemiologia é, indubitavelmente,
          uma das mais importantes nessa temática.

                  Os argumentos favoráveis à estipulação de metas são inúmeros.
          E, do ponto de vista da gestão, realmente são argumentos sólidos e até
          defensáveis. Os problemas, contudo, surgem quando essas metas são
          fixadas sem levar em conta, sem considerar as características psicofísicas de
          cada trabalhador, bem como as condições materiais (e humanas) do trabalho
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          nas  diferentes  unidades,  e/ou  ainda  quando  a  sua  cobrança  se  procede  de
          modo penoso, contundente  e antidialógico. Isso sempre gera sobrecarga de
          trabalho, especialmente quando há pressão – ainda que indireta – por maior
          produtividade, com a exposição dos trabalhadores a rankings comparativos
          e, na iniciativa privada, com a ameaça de perda do emprego.
                  Há, inclusive, casos de empresas, sobretudo do setor bancário, que
          estipulam um super ranking como métrica da apuração das metas, cobrando o
          atingimento de 150% a 200% das metas estipuladas. E, não por outra razão,
          há muitos anos se tem verificado que o setor bancário é um dos mais propícios
          ao surgimento de transtornos mentais nos trabalhadores, principalmente
          por causa da excessiva cobrança de metas. Aliás, quando da instituição do
          NTEP (Nexo  Técnico Epidemiológico Previdenciário), constatou-se, na
          faixa dos “bancos múltiplos com carteira comercial” (CNAE 6422-1/00),
          um índice desproporcional de afastamentos de trabalhadores por problemas de
          saúde mental . Já por isso, pelos dados do NTEP, pode-se hoje afirmar que
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          7  OLIVEIRA, Paulo Rogério Albuquerque.  Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário
          NTEP. Fator Acidentário de Prevenção FAP: um novo olhar sobre a saúde do trabalhador. 2.
          ed. São Paulo: LTr, 2010, p. 215.
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