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Guilherme Guimarães Feliciano  / José Antônio Ribeiro de Oliveira Silva

                               um juiz em extinção. Eis algo certo, até melhor dito na dicção dura
                               dos Inocentes, e na letra punk suburbana de Clemente Nascimento:
                               “Palavras queimam em desastre... Exterminaram toda a arte! Fábricas!
                               Fábricas! Pra construir o quê? Cabeça vira cubo... de TV!”.

                       Agora, há que o dizer de modo ainda assertivo. É o que, neste
              texto, pretendemos oferecer, ou, ao menos, sinalizar.



              1 AS METAS E OS TRANSTORNOS MENTAIS

                       Toda a vasta literatura que cuida da saúde do trabalhador – não
              somente a da Medicina do  Trabalho, mas dos vários campos de estudo
              interrelacionados, como da Engenharia do Trabalho, da Psicologia do Trabalho,
              da Fisioterapia do Trabalho, da Enfermagem etc. – aponta, há anos, os vários
              agravos à saúde desencadeados e/ou agravados por conta da organização e da
              forma como se dá a prestação de labor. Basta lembrar DEJOURS, para quem
              a finalidade inapelável e inconfessável das organizações é a de que, afinal, o
              próprio operário se converta em artesão do próprio sofrimento. O sentimento
              de inutilidade diz justamente com a percepção de que o trabalho envidado   93
              não tem razão de ser. Em suas palavras, é a
                               [...] vergonha de ser robotizado, de não ser mais que um apêndice
                               da máquina, às vezes de ser sujo, de não ter mais imaginação ou
                               inteligência, de estar despersonalizado etc. É do contrato forçado com
                               uma tarefa desinteressante que nasce uma imagem de indignidade.
                               A falta de significação, a frustração narcísica, a inutilidade dos
                               gestos, formam, ciclo por ciclo, uma imagem narcísica pálida, feia,
                               miserável ... A vivência depressiva condensa de alguma maneira os
                               sentimentos  de  indignidade,  de  inutilidade  e  de  desqualificação,
                               ampliando-os. Esta depressão é dominada pelo cansaço... Executar
                               uma tarefa sem investimento material ou afetivo exige a produção
                               de esforço e de vontade, em outras circunstâncias suportada pelo
                               jogo da motivação e de desejo. A vivência depressiva alimenta-se da
                               sensação de adormecimento intelectual, de aniquilose mental, de
                               paralisia da imaginação e marca o triunfo do condicionamento ao
                               comportamento produtivo .
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                       Nessa direção, a tal reengenharia ou reestruturação das empresas
              e dos métodos de produção, inclusive no largo campo da prestação de

              6  DEJOURS, Christophe. A loucura do trabalho: Estudo de psicopatologia do trabalho. Trad.
              Ana Isabel Paraguay, Lúcia Leal Ferreira. 5. ed. São Paulo: Cortez-Oboré, 1992. pp. 49 e ss.
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                                           Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 12  Região | v.27 n. 36 2024
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